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un regard ne pas sérieux impressions photographiques, cinématographiques, historiques, philosophiques et carnavalesques ← articles plus anciens 06-07-2018 , par joão bonturi corações e mentes quatro décadas após seu lançamento (1974), o documentário de peter davis é um dos mais brutais retratos da sociedade americana e do que ela é capaz de fazer, se tiver motivação e um armamento cada vez mais sofisticado. não importa se o nome da guerra é « do vietnã » ou « do iraque ». existe um traço comum no comportamento dos americanos, em épocas distintas de envolvimento dos eua em crises externas, que « corações e mentes » capta com precisão: a histeria diante de inimigos, às vezes mais imaginários do que reais. a guerra fria, ambiente do filme, foi um momento histórico em que esse perfil se manifestou de forma aguda. o receio de que o comunismo se expandisse pelo mundo, ameaçando a hegemonia da cultura americana e a própria existência dos eua como ideia, encontrava pouco respaldo na realidade. eric hobsbawm, em « a era dos extremos » sugere que a urss talvez não fosse uma ameaça real: « pois hoje é evidente, e era razoavelmente provável mesmo em 1945-47, que a urss não era expansionista e menos ainda agressiva nem contava com qualquer extensão maior do avanço comunista além do que se supõe houvesse sido combinado durante a segunda guerra mundial nas conferências de teerã (1943), yalta e potsdam (1945) ». porém o fantasma comunista mobilizou os eua durante décadas. em nome dele, o país não hesitou em atropelar os princípios que dizia preservar. dentro de suas fronteiras, limitou as liberdades individuais para facilitar a caça aos comunistas, que foi liderada pelo senador joseph mccarthy (macarthismo). no exterior, apoiou regimes ditatoriais como portugal e espanha, bem como amparou regimes militares na américa latina porque eram considerados estratégicos. o discurso desmascarado por « corações e mentes » é a defesa da « liberdade » e dos « valores ocidentais ». os sucessivos governos americanos que se envolveram no vietnã revestiram a barbárie com diversas roupagens. o filme mostra que elas convergiam para a comprovação da superioridade da civilização ocidental. ao primitivismo pastoril dos vietnamitas, a potência americana contrapôs um extenso arsenal tecnológico e ofereceu o modelo da sociedade de consumo. os defensores da ação no vietnã julgavam-se superiores na capacidade humana de emocionar-se. um dos entrevistados afirma que os asiáticos têm menos apreço à vida do que os ocidentais. assim, a desumanização do inimigo permite subjugá-lo e matá-lo à vontade. da mesma forma que os conquistadores espanhóis da américa no século 16, os americanos no vietnã agiram em nome de uma ideia cuja dissonância com a realidade só poderia ser resolvida por meio da matança. no documentário impressiona como a câmera parece estar em todos os lugares ao mesmo tempo. está no helicóptero que bombardeia pântanos. acompanha a tortura de um vietnamita na rua. segue o menino que pede esmolas no ocidentalizado vietnã do sul. e está com soldados na cama das prostitutas da capital saigon. publié dans cinema e história | laisser un commentaire 22-10-2017 , par joão bonturi o ovo da serpente ao final da primeira guerra mundial, sob o peso das imposições do tratado de versalhes (1919), a alemanha vive uma época de terríveis contrastes. esse amplo painel é cruamente retratado pelo diretor sueco ingmar bergman em « o ovo da serpente » (the serpent’s egg, 1977), um dos melhores filmes em torno do surgimento do nazismo. mergulhada em uma dívida originada pelo pagamento de uma colossal indenização de guerra, somada às mutilações territoriais, a moeda alemã passava por uma hiperinflação em que o preço dos produtos chegou a ser trocado não por números, mas pelo peso do dinheiro. o desemprego e a fome assolavam grande parte da população, a cena do filme em que um cavalo morto é dissecado e repartido não é uma metáfora. a ação se passa em 1923, no momento do « putsch » da cervejaria. graças a essa tentativa frustrada de tomada do poder, o até então obscuro adolf hitler revelou-se para a alemanha. preso e processado, condenado a seis meses de prisão, durante o cumprimento da pena escreveu « mein kampf » (minha luta), obra na qual articula os princípios do nazismo a partir das aspirações e preconceitos preexistentes às frustrações do pós-guerra. berlim é o cenário para a história de abel rosenberg (david carradine), 35 anos, nascido no canadá, filho de judeus dinamarqueses, artista circense, que fazia com o irmão max um número de trapézio, até que max machucou o pulso e pararam de trabalhar. ao chegar na pensão em que moravam, abel deparou-se com o suicídio do irmão. no dia seguinte, ao apresentar-se na delegacia de polícia, começa sua via crucis com o inspetor bauer, que o considera suspeito de diversos assassinatos ocorridos em circunstâncias misteriosas na mesma área. as razões da suspeita? estrangeiro, judeu, desempregado. abel busca sua cunhada manuela(liv ullman), cantora de cabaré, à qual se alia em uma desesperada busca pela sobrevivência. bergman então retrata a efervescência da noite berlinense e destaca o que os nazistas classificaram como « arte degenerada », bem como a violência das invasões dos bares e boates pelas milícias nazistas, em nome da pureza germânica, sob os olhares complacentes das autoridades policiais. nesse ambiente, abel e manuela encontram hans vergerus (heinz bennent), um conhecido da infância que se tornou médico e lhes oferece emprego em uma clínica. tal generosidade não passava de fachada para submetê-los a experiências sinistras, tal quais as posteriormente realizadas por josef mengele em campos de concentração. em « o ovo da serpente » a triste revelação é a de um indivíduo consumido pela frenética metrópole. ele tem a oportunidade para sair daquele espaço, mas não consegue, e se perde na multidão pelas ruas encharcadas por uma constante chuva. publié dans cinéma , cinema e história , história | marqué avec david carradine , ingmar bergman , liv ullman , nazismo , segregação racial | laisser un commentaire 20-06-2017 , par joão bonturi a queda – os últimos dias de hitler por melhor que seja, um filme é uma representação construída a partir de um roteiro, sob as ordens de um diretor que comanda uma equipe de técnicos e atores. um filme de reconstituição histórica nunca é verdadeiro, é verossímil, tal qual um livro, é um recorte, uma visão a mais sobre um determinado tema. porém, quando se trata de adolf hitler e do nazismo, qualquer representação gera polêmica. « a queda: os últimos dias de hitler » apresenta uma versão elaborada por bernd eichinger (roteirista) e oliver hirschbiegel (diretor), sobre o comportamento das figuras de proa do regime nazista no « bunker » (fortaleza subterrânea) em berlim, durante o final da segunda guerra mundial na europa, entre os meses de abril e maio de 1945. o elo entre os personagens é a secretária de hitler,traudl junge (1920-2002), cujo relato bis zur letzten stunde – hitlers sekretärin erzählt ihr leben (até o fim: os últimos dias de hitler contados pela sua secretária), serviu como base para o roteiro, bem como der untergang (a queda), do historiador joachim fest. seguindo uma tendência atual, pela qual as matérias sobre comportamento têm um alto índice de apreciação, tanto na imprensa, quanto no rádio e na tv, eichinger e hirschbiegel, buscaram nesse veio um êxito comercial para a produção mais cara do cinema alemão, cujo custo girou em torno de 14 milhões de euros (aproximadamente 42 milhões de reais). em torno da visão comportamental, a própria traudl junge afirma em seu livro que « hitler era um anfitrião muito amável e alegre em relação às mulheres. ele nos convidava a repetir os pratos, perguntava se queríamos mais alguma coisa, e falava de um modo caloroso e com certo humor de viagens passadas e de seu cachorro, e fazia piada sobre seus colaboradores ». transportada para o filme, a idéia provocou numa parcela dos e